segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

"O principal desafio é vencer o preconceito"

Secretário de políticas para o Idoso do Distrito Federal
Sem planejar e sem pedir, Ricardo Quirino se viu empossado como secretário de Políticas para o Idoso do Distrito Federal. De uma hora para outra, se encontrou no olho do furacão para criar políticas e implantar projetos que atendem a um segmento que sempre foi esquecido e que ganha cada vez mais importância à medida que o País fica mais velho.  De cara, Quirino teve que enfrentar o preconceito até dos próprios idosos. Mas, com a sabedoria que só o tempo traz, vem obtendo sucesso e já almeja o futuro, com propostas como a Delegacia do Idoso e o Hospital Geriátrico de Brasília. Ele sabe dos desafios, mas não os teme. Afinal, como brinca, o País do futuro está acordando, com rugas e cabelos brancos. Mais velho, mas também mais sábio.
1 - Qual o principal desafio de ser secretário do idoso no Distrito Federal?
RQ - Quebrar o preconceito. Pode até não ser recorrente, mas é real. O Distrito Federal tem características excludentes, e assim é para todos. Nós temos o Plano Piloto com alguns serviços de primeiro mundo, mas, na medida em que você vai se afastando desse centro de poder, vão surgindo dificuldades em localidades com menos condições e serviços. Isso, para o idoso, também é uma realidade ainda mais acentuada, porque eles já estão na faixa etária em que não há muitos recursos. Por exemplo, a juventude, com essa desigualdade, ainda pode transpor obstáculos de distância para estudar, pode sonhar em transcender essa realidade. O idoso pode e faz, mas para ele é tudo mais difícil, também por causa do preconceito. Então, o principal desafio é vencer esse preconceito, que por vezes é do próprio idoso.
2- Apesar de o País estar ficando mais maduro, o senhor ainda vê esse preconceito?
RQ - Sim e ele é natural. Não é algo que a pessoa busca. É da construção ideológica de nossa sociedade. Quantas campanhas publicitárias você vê citando frases como “o País do Futuro”, “o País Jovem”! Então, todos os programas de desenvolvimento são voltados prioritariamente para a juventude, como se o idoso não existisse. Mas se esqueceram de combinar com o futuro. A ONU já divulgou diversos estudos mostrando que dentro de, mais ou menos, 15 anos teremos mais idosos do que jovens. Isso porque nossa taxa de natalidade está caindo, nossa juventude está sendo morta a bala ou pelas drogas e a expectativa de vida de quem alcança a maturidade está aumentando. Esse último ponto não é ruim, desde que essa população mais velha tenha políticas próprias. Os idosos não querem, hoje, ficar de pijama. Eles querem produzir, viajar, namorar e viver e estão cada vez mais produtivos. Veja o exemplo na política. Nossa presidente, nosso vice, o presidente do senado, todos já estão na faixa etária dos idosos, mas são produtivos.
3- O senhor citou o exemplo de políticos idosos. Não enfrenta uma espécie de preconceito por ser um político jovem responsável pela pasta dos idosos?
RQ - Sim, eu já ouvi a frase “ele é muito novo para isso“ várias vezes. Esse é outro preconceito. Eu não sou secretário para pensar como as pessoas pensam que um idoso deve ser, mas em como proporcionar a qualidade de vida que esse idoso quer e merece; produzindo, estudando e vivendo cada vez mais e melhor. Nosso objetivo é intergeracional. Ou seja, promovermos uma integração em que jovens e idosos se sintam à vontade juntos. Claro que um senhor de 70 anos não tem a vitalidade de um rapaz de 20. Então os aparelhos públicos devem estar preparados também para ele, assim como devem estar para o de 20 e o de 10. O idoso não é um apêndice na sociedade. Ele faz parte. Da mesma forma que um jovem pode ser limitado em termos de maturidade e conteúdo intelectual - afinal não tem a bagagem de vida de alguém mais velho -, mas nem por isso deve ser alijado do mercado de trabalho, também o idoso, porque não vai ser o recordista de velocidade, deve ser esquecido na maratona. Até porque, muitas vezes, é ele quem conhece os atalhos.  O idoso pode e deve participar de tudo respeitando suas limitações. De novo vem aquela carga de preconceito, de que ele já não tem paciência, de que é difícil levar e fazê-lo participar, de que é quase um estorvo. Quando, na verdade, ele é que muitas vezes pode e deve motivar a família, quando não a sustenta. Estamos lançando uma campanha que diz “Idoso, leve sua família para passear”. O objetivo é fazer com que o idoso seja visto como propulsor e não como um obstáculo à convivência familiar. Agora, quando dizem que sou muito novo para cuidar da Secretaria do Idoso, eu lembro que tenho 47 e já não sou tão jovem assim. E, além disso, se fosse assim, o delegado responsável pela Delegacia da Criança e do Adolescente deveria ser uma adolescente (risos).
4 - Como o senhor avalia as atuais políticas para o idoso?
RQ - São boas. A começar pelo Estatuto do Idoso, que é perfeito. Claro que ainda falta fiscalização. Aos poucos, a população idosa, com mais acesso a informações e conhecimento de seus direitos, vai despertando e sabendo como, onde e de quem cobrar. Assim como foi com a Lei Maria da Penha (de proteção à mulher). Então, as políticas são boas, mas falta fiscalizar e punir também. Observe que hoje já existem Delegacias da Mulher em todo o País, mas ainda não há a do Idoso. Isso vai ser inevitável. Eis uma ambição nossa, até porque o DF já é pioneiro na criação da Secretaria do Idoso em status estadual. Existem outras municipais, mas com status estatual é a primeira. Por meio dessa secretaria poderemos sensibilizar os outros estados e quem sabe amanhã ver o Governo Federal criar um ministério específico para o idoso! Acho que mais cedo ou mais tarde isso vai acontecer.
5- O Brasil está preparado para envelhecer?
RQ - Está se preparando. Nunca pensou nisso, mas agora... Costumo brincar dizendo que o gigante acordou com rugas e cabelos brancos. O resultado desse envelhecimento são mais idosos querendo voltar ou permanecer no mercado de trabalho. Mais idosos estudando, mais idosos querendo participar de atividades culturais, sociais e políticas do País. Esses são os lados positivos. Mas há os tristes, como mais idosos sendo vítimas de violência. Principalmente a doméstica. Mas estão aumentando os números de assaltos, homicídios e outros tipos de violências contra o idoso.
6 - De que forma a secretaria pode ajudar no combate a essa violência?
RQ - Com informação. Com a conscientização da sociedade. A secretaria tem providenciado campanhas alertando para o problema. Agora mesmo, de sete a 12 de dezembro, fizemos várias atividades com vários grupos de idosos dentro da Semana de Conscientização do Idoso. Foram várias manifestações públicas em espaços como a rodoviária do Plano Piloto, onde ficamos por seis horas abrindo espaço para as pessoas falarem, para ouvir reclamações, nesse caso, muitas direcionadas aos meios de transporte. Fizemos ainda peças, palestras, divulgando e fazendo com que a sociedade escute e respeite o idoso. Acredito que muito do desrespeito vem do desconhecimento de que existe um estatuto, de que existe uma proteção específica para o idoso e de que, para o agressor, a punição é mais severa. Sabemos que, muitas vezes, principalmente na violência doméstica, há o silêncio do próprio idoso, que não quer denunciar sua família, por medo do abandono, por medo de novas agressões. Então, na maioria das vezes, quem denuncia é o vizinho. Somente este ano tivemos mais de 160 denúncias de violência contra o idoso. Como não havia secretaria antes, não tenho como confrontar esse dado e saber o quanto está aumentando. Mas com o serviço 0800 que vamos reativar, teremos um mapa mais claro dessa situação, o que vai permitir uma atuação mais direcionada.
7 - Qual seria sua principal meta à frente da Secretaria?
RQ - Em primeiro lugar consolidá-la, fazendo com que deixasse de ser uma secretaria especial, quase extraordinária, para ter toda a estrutura de uma secretaria efetiva e assim o fosse. Outro desafio é trabalhar pela inclusão do idoso no mercado de trabalho, passo a passo, com a inclusão digital e oferecimento de cursos. Precisamos reintegrar o idoso que queira voltar para o mercado de trabalho. Mas temos que fazê-lo de acordo com a realidade atual. Hoje, uma parcela significativa já está apta a mexer com a internet, mas ainda é muito pequena diante dos milhões de idosos brasileiros.
8 - Hoje é bom ser idoso no DF?
RQ - É bom, até pelas características do DF. Nossos índices de violência ainda são menores. É uma cidade plana, que facilita a locomoção. Diria que hoje precisamos de um trabalho maior dentro da própria família do idoso. Precisamos convencer a família a respeitar e aproveitar todo o potencial que esse membro da família tem.
 9 - É possível integrar essa realidade positiva do DF com a do entorno, que está em um patamar de qualidade de vida inferior?
RQ - Sim, porque nos temos a Secretaria do Entorno que facilita essa interlocução. Poderemos levar algumas políticas para o entorno por meio desse diálogo. Essa semana mesmo (a entrevista foi feita no dia 12 de dezembro) recebi o pedido de um grupo de idosos de Valparaízo, cidade do entorno do Distrito Federal, para desenvolvermos naquela cidade um trabalho similar ao feito no DF. E nós estamos conversando com a Secretaria do Entorno para viabilizar isso. E temos que fazer porque essas cidades fazem parte de uma área metropolitana que depende de Brasília. Não estamos fechados para o mundo. Muito pelo contrário, queremos influenciá-lo.
10 - Hoje, um dos principais problemas do DF é a saúde, e esse é um tema caro para a população mais velha. Como melhorar o atendimento para esse segmento?
RQ - Temos trabalhado junto com a Secretaria de Saúde em todos os nossos projetos. Por meio dos cadastros da saúde e também da Secretaria de Ação Social levamos nossos projetos de inclusão dos idosos.  Claro que os problemas de saúde atingem toda a população. Mas temos procurado propostas que minimizem os impactos para os idosos. A gente tem uma meta que seria a criação de nosso Hospital Geriátrico, cujas obras físicas chegaram a ser iniciadas, mas o projeto foi abandonado. Nosso sonho é fazer esse hospital geriátrico e torna-lo, como piloto, uma referência no tratamento de saúde do idoso em nosso País. Essa é nossa pauta para 2012.
11- Na sua avaliação, o Estatuto do Idoso é respeitado no DF?
RQ - De maneira geral sim, mas quem mais precisa ainda não o conhece. Devemos ter o trabalho de fazer com que essas pessoas o conheçam.
12 - Qual seria sua mensagem de Natal e Ano Novo para o Idoso?
RQ - Lute pelos seus direitos e não se exclua das atividades da família e da sociedade. Você, idoso, é importante e tem muito a contribuir com o desenvolvimento de nosso País. Para isso, conte com a secretaria do idoso. Estamos trabalhando para termos um 2012 melhor. Esse é o meu sonho de presente para um Feliz Nata.

Por: Paulo Gusmão
Foto: Leonardo Prado
Postado por: Paulo Henrique (PH) - Vice-Presidente Estadual

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