"Não podemos ser expectadoras do sistema"

Silvia Cerqueira Presidente do PRB Mulher da Bahia

Ampliar a representatividade feminina no cenário da política. É com essa ótica que a Conselheira Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e presidente estadual do PRB Mulher na Bahia, Silvia Cerqueira, almeja desenvolver uma dinâmica que desperte a maior quantidade de mulheres na participação ativa no poder buscando a igualdade de oportunidades. Inflexível com injustiças, doutora Silvia, há mais de 30 anos, luta incessantemente para combater qualquer forma de discriminação com coragem e compromisso

1) Como despertar as mulheres da Bahia sobre a importância da participação ativa da mulher na política?

Silvia Cerqueira - Primeiro, fazendo um trabalho de conscientização. Isso só será alcançado por meio de palestras, seminários, enfim, de ações concretas com essas mulheres, para que elas percebam a importância da participação da mulher no contexto não só político partidário, mas socioeconômico e cultural. Acredito que elas, percebendo o valor de se estar militando nessas frentes, iremos ampliar essa participação feminina. A consciência é importante para feminizar a política partidária porque não nos interessamos por mulheres com perfis masculinos, e, sim, que defendam as bandeiras delas.

2)  Qual o diferencial do PRB Mulher?

Silvia Cerqueira - O diferencial é que, além de dar espaço às mulheres, o PRB ainda procura contemplar as mesmas com uma formação política, mostrando o papel que elas têm na sociedade enquanto mulheres, para que tenhamos ferramentas com a finalidade de buscarmos o que nos é de direito. Nós do partido entendemos que um dos princípios básicos do pensamento republicano é a democracia, e ela só se efetiva através da participação do povo. Temos um contingente de mais de 50% de mulheres em todo o Brasil e a representatividade feminina não se reflete nas Câmaras, Assembleias ou Senado. Aí você me pergunta o que o PRB traz de novidade? É o exercício da democracia participativa, porque nós queremos participar do poder e vamos procurar conscientizar as mulheres para o empoderamento. Formação política para as mulheres ocuparem o poder de forma consciente é a nossa plataforma. Para isso, vamos visitar diversos municípios baianos e a periferia, para levar essa mensagem às soteropolitanas com a expectativa de um mundo mais equânime, fraterno, solidário e justo.

3) Por que a senhora acredita que somente 30% das cotas partidárias são destinadas às mulheres?

Silvia Cerqueira -As cotas devem ser vistas como um avanço na luta das mulheres para o ingresso na política, porque antes essa participação era quase inexistente. Observe que apenas em 1932, as mulheres brasileiras conquistaram o direito de participar das eleições como eleitoras. Em 1933, Carlota Queirós foi a primeira deputada federal brasileira. Nesse contexto, já houve um progresso pelo fato de atualmente já contarmos com 30% das cotas para mulheres no partido, não mais como reserva, mas como obrigatoriedade de preenchimento. O ideal seria que o percentual fosse 50% para homens e mulheres, mas como isso ainda não é possível, não podemos ser uma expectadora do sistema, e acreditem, a melhor maneira de se combater injustiças é com a militância política.

4) Com Dilma à frente da Presidência da República houve um aumento, digamos, um maior interesse das mulheres no âmbito da política?

Silvia Cerqueira -Eu penso que sim e muito. Não tenho dúvida de que muitas mulheres passaram a se ver e a se sentirem representadas. A presidente resgatou a autoestima das brasileiras, preparou o imaginário coletivo da sociedade para receber uma mulher no comando e quebrou paradigmas, tabus. Por todas essas razões é muito importante Dilma estar dirigindo a nossa nação. Mas, apesar de Dilma no poder, aqui na Bahia, temos somente uma senadora e uma deputada federal, o que sinaliza que há muito por fazer para preencher essa lacuna feminina.

5)  Como a senhora definiria o papel político das mulheres atualmente no Brasil?

Silvia Cerqueira -As mulheres se posicionam em um contexto de resistência e luta. Atuação que já vem perdurando desde a época do feminismo, quando houve a necessidade de se rasgar sutiãs e queimá-los em praças públicas, passando pelo lobby do batom, na área de direitos reprodutivos e no combate à violência contra a mulher, e todas as outras formas de discriminação, preconceito de gênero, raça, etnia e a sua inserção no mercado de trabalho.

6) Em seu livro “O poder de saia na Bahia” a senhora aborda o desequilíbrio de acesso ao poder entre homens e mulheres que resulta em perdas significativas. Fale um pouco sobre essa questão.

Silvia Cerqueira -Apesar de o livro ter sido redigido em 2001, afirmo seguramente que não houve muita evolução. Se quisermos chegar lá, vamos ter que quebrar paradigmas, abrir portas para que a gente entre em espaços que historicamente são ambientes masculinos, e isso vem se dando através de um processo que é lento e não é o ideal. Essa afirmação é mediante as estatísticas que comprovam uma atuação feminina quase que invisível, por exemplo, na OAB, que é a minha casa, nunca teve uma presidente na seccional da Bahia tampouco no Conselho Federal. 

O interessante é perceber que a obra foi escrita por meio de uma inquietação minha, após ter perdido uma eleição no seio de uma instituição que defende os Direitos Humanos, é guardiã do Estado democrático de direito e é apontada como uma das mais democráticas do país. Mesmo assim, fui bastante discriminada. Porém, esses incidentes não me desmotivaram de continuar a luta no combate a todo tipo de discriminação contra a mulher.

Por Ludmilla Cohim

Postado por PH